NEXTTERES

NEXTTERES
NO PRÓXIMO TERERE SEMPRE UMA PROSA

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O PESO DO FENO - NADA É TÃO SECO E OS ANJOS SÓ PARECEM CEGOS







Li essa história na infância ou primeira adolescência e jamais recuperei o livro, o original. A recompus hoje, como pude, por reminiscências que redespertaram em meu espírito o conto... 

Era tarde, mesmo para os velhos duques guerreiros, era tarde. Sentia seus ossos cansados, tomando todo o espaço do seu pensamento... Depois de uma coleção de milagres que o trouxera sempre ferido, mas vivo, pensava que a morte já era seu principal desejo, e só não tomava pulso para ele mesmo realizar o encontro, porque havia uma inquietude, o peso imenso de seus pecados. 

Pensava, na confusão em que se destacavam realizações recentes de cruentos combates; talvez me deite, olhe mais uma vez a mais bela das duquesas da Terra, e durma meu último sono... Sorriu com a ideia do sono... Mas, a argola da porta principal ecoou com muita violência... Lá fora o frio certamente era imenso e surpreendentemente alguém de suprema coragem ou com grande desespero aventurava-se a vir a algo. 

De espada em punho, cheio de inimigos que era, abriu a grande porta gritando: "Que diabos te trazem, ó, infeliz, ao meu castelo?". E um ser, longe da energia que poderia se supor pelas batidas dantes, suplicou; "Senhor, pousada, senhor; pereço, morro, se fico às externas nesse rigor que me colheu sem tempo para fugir...". 

O Duque, sombrio, analisou o homem; um andarilho qualquer, um mendigo... Por que existiriam? Como acontecia a falta de vontade... a miopia sobre como sustentar-se...? E como aquela noite parecia mesmo muito diferente de todas as outras, buscou, em seu imenso cansaço, energia para indagar o homem, antes de lhe conceder abrigo. Por alguma razão, conseguiu somente saber o suficiente, o andarilho tinha algum poder de impor silêncio... Talvez porque não tinha mesmo muito a contar, sobre o andar, pedir, às vezes apanhar, sofrer e seguir... 

Mas o Duque leu o semblante, a pele surrada e com toda espécie de cicatrizes de castigos da natureza e dos homens que maltratam mendigos... E, por alguma razão; ao agradecer o mendigo o sim pela estadia, os olhares dos homens, em um impacto fraterno se encontraram; o Duque sentiu algo parecido a uma punhalada invisível... Estava cansado, muito cansado... E apenas disse; "vamos, o levarei a um dos aposentos do castelo às visitas"... E iniciaram-se novos pedidos e curta prosa; o mendigo venceu argumentos, queria apenas a estrebaria, o piso; só precisava se ausentar do relento... E ao Duque mostrar; "aí está..." O mendigo deitou-se como se tivesse ossos quebrados, e uma imensa necessidade de repouso... 

O Duque, movido sabe-se porque inédito sentimento, afastou-se e foi onde guardava o feno; juntou um punhado e trouxe; insistiu; "tenha um encosto para a cabeça, amigo...". E o mendigo, com sorriso de mendigo, aceitou e aconchegou-se para o sono novamente... Naquela noite, a duquesa percebeu o duque em gemidos novamente... Mas, embora lhe fizesse terno carinho, não estranhou tanto, pois era um homem de batalhas, e gemer em pesadelos ou dores renitentes era coisa comum... Na manhã, o duque estava morto; havia em seu rosto um sorriso incomum... 

Anjos severos, quietos, julgavam um duque cheio de pesados pecados... Por eles, iam se pondo na balança todos os males causados a senhores de família, às mulheres, idosos e crianças, indiretamente, pelos seus atos de estadista guerreiro... Pesava imensamente a balança, no lado direito, que empurrava o solo divino, ao tempo que a outra vasilha, vazia, fixava-se ao contrário, ao alto. Enquanto isso, em silêncio, mas não sem temor pelos infernos, olhava o Duque, todo o mal que fizera sem grandes balanços... Já ia próximo seu decreto em favor de estadia infernal, então aparece novo anjo com peso para a balança; mas não se dirige à direita, vai à esquerda; o Duque o reconhece... Põe um tanto de feno, na balança... E o feno vence a batalha simétrica; e o anjo que o salva dos infernos estende a mão, o levanta, diz umas poucas palavras que remetem ao reinício, a mistérios que não nos vem a nós...  O bem é misterioso, o mal talvez nem tanto... Seguimos!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A INUTILIDADE DA POESIA - PROFECIA DE RETRATOS EMPOEIRADOS E NUMERADOS










FONTE DAS IMAGENS: Reportagem no UOL, de Gabriel Nanbu - fotografias do holandês Martiejn Fabrie

DESPERTAMOS AO APELO DAS IMAGENS SOLITÁRIAS E INSISTENTES; desse nomes indissociáveis; solidão e poesia...

DAS PALAVRAS ÀS IMAGENS; DAS PALAVRAS AS IMAGENS, DAS IMAGENS ÀS PALAVRAS.

Despertamos ao apelo falsamente inocente desse nome: poesia...

Apenas a chance de sair do conforto inter materno para luzes incômodas;
É isso que somos; uma coleção de risos, choros, esperanças e melancolia;
Os prédios que abrigam nossa paz conversam com nossos sonhos;
Há uma angústia na solidão; mas sem a solidão, impossível a paz;
Impossível o sono e as reminiscências de todas as chances do amor!
Que é o amor? Apenas uma pergunta com sementes intrigantes; pensa-se:

0 - Sabe? Sabe aquele teto de vermelho fogo? Eu me lembro dele... perfeitamente... 
um teto cheio de arcos cúmplices, cúmplices góticos;
Ele é o ponto de partida para que tudo que te constitui se faça o vazio;
Quem sabe um vazio arquitetônico; quem sabe um vazio portentoso, mas,
VAZIO.
E por que não preencher os porquês desse vazio com outros, feitos de uma 
ou mil saudades; que se fundem, se fodem e se confundem, em mil razões...

1 Posso me sentar em uma cadeira para pensar, você jamais voltará!
Isso é de um conforto que jamais poderei explicar, coragem, não covardia;
2 É dia, talvez, embora, por orar, parece-me que ou partiram ou partem;
   ou partem-se as partículas do sol;
3 Não há mais aulas; nem férias, não há ninguém, como em Seixas; sim...
 O professor não veio para lecionar, sabia que não haveriam alunos para estudar
4 Mesmo lá fora, nos jardins, nada, não nada um só peixe  nas águas... 
  Janelas sombrias, completamente compactuadas, ninguém por elas olha...
5 Oração feita de longe, consigo mal me mover e ver a luz; mas oro
6 Talvez ponha vida nos motores, expulse a poeira, fina como pó de giz;
7 Minha oração em seu nome é tão poderosa que a casa ensaia vida;
   Ensaio perfeito, engana todos que ousam compartilhar o pensamento
8 Mas a luz é particular; é única; ela mostra o caminho apenas ao solitário;
   Sempre há algum esforço; nada, nem mesmo no pensamento, é gratuito;
   Há a escada... Ela levará a um banho para os corajosos apenas, sim;
9 O último banho, brilhante, anjos para aqueles que creem; anjos para os crentes;
   Demônios para aqueles que não leem, aqueles que mentem, sem mente.

   Mas, talvez e o certo, nada, apenas mais um olhar, e tudo volta, como em
   ENCAIXOTANDO HELENA, de Sherilyn Fenn e Sands, tudo volta e se segue... é a vida, sorrir;
   Sorrir para a face da morte, em todas as poesias, vidas e sortes... Seguimos, segue-se...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Mundo Gay e o Frankestein de Shelley.





Nesta semana ouvi alguém dizer de forma estúpida: 

"esse é o mundo 'deles' é o mundo gay deles"... (?).

Obs. Tenho consciência de que falo aqui com o risco de dizer bobagens ou mais que isso. Pois toco em um nevrálgico ponto social que na verdade não deveria existir, pois realmente somos todos, sem exceção, diferentes uns dos outros, e deveríamos nos aceitar sempre assim, não somente nas igualdades, mas nas milhares de diferenças que temos uns dos outros.

A violência contra os gays são de ampla e profunda diversidade. São atacados em toda forma, em toda escala de violência. As fontes geradoras da má vontade (ativa) social contra os gays são de diversa ordem, e por incrível que pareça, gays atacam gays, quanto aos procedimentos; isso é particularmente comovente, no sentido negativo. 

A babel que essa palavra "gay" desperta  talvez terminaria quando a sociedade percebesse que, factualmente, isso não deveria ter importância. Quando a palavra gay se dilui na humanidade, é anulada, em si, pelo amor; perde todo o sentido, naquilo que realmente se trata de um nada; que não existem gays, assim como não existem nativos, não existem negros, brancos, não existem executivos ou garis, no mundo humano. Esse absurdo, que nada tem de maluco ou provocativo encontra concordância em vários gays que lutam justamente por isso, pela anulação da importância da questão ou na palavra; quando você disser "ei branquelo" for tão nulo quanto disser "ei negão".

Deveria haver um "mundo gay"? Não! Tanto quanto não deveriam haver Frankesteins; que em literatura é um símbolo de defesa contra a estupidez do mundo.

Sim. O ataque de Frankestein ao mundo é uma devolução chamada DEFESA. Primeiro ele é ingênuo ao ponto de pensar que é aceito, e então, aos poucos percebe como é realmente encarado por aqueles que inventaram o amor, através de suas muitas instituições, passando pela família tradicional, patriarcal, e as igrejas em geral; em como as pessoas determinam costumes e fazem destes, verdadeiras pedras que constroem e cristalizam o ser social.

O "mundo gay" é como Avalon, pode sumir quando não mais houver necessidade dele, quando o mundo é somente um: humano. Mas, por enquanto, ele tem que existir, para defender-se; para realizar a genuinidade de seus amores e gostares.

É AÍ QUE ACABA A DIFERENÇA entre Frankestein e o Mundo gay.

Porque, na realidade,  e por mais que no avanço da ciência e as relações sociais se busque a imposição de amplos sufrágios, se Frankestein e o Mundo Gay é melhor aceito nos papéis de literatura ou a partir dela (cinema, novelitas, etc.) o último não tem saída. Frankestein fica, no final da história, protegido pela literatura e mundo imaginário, pela morte, lá onde nasceu e viveu, na manifestação da prodigiosa mente de Shelley. Já, o MUNDO GAY, não, não mesmo; esse tem que vir à vida e sua estupidez, tem que existir e trabalhar contra si próprio, finalmente, a favor de sua anulação, de quando realmente é apenas tão mundo que ninguém percebe que o amor é espírito, muito mais que encontro e frisson de carnes.

E Shelley, visivelmente, construiu Frankestein para verificarmos que o problema básico de termos "inventado" o amor e o enriquecimento atômico é que nos comportamos como imbecis com o que inventamos, precisamos ir adiante e não conseguimos, precisamos transformar o amor em amor, e não conseguimos ainda; mas precisamos; precisamos anular os nichos até que só o sejam com a mesma finalidade que se busca um "blues bar", um sertanejo" bar; o momento efêmero em que a especificidade toma a coroa social sobre a mais importante, a humana.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A LENDA DA MOÇA DE LÁGRIMA DE CRISTAL











Nossa memória é muito frágil para cumprir funções em que às vezes a sobrecarregamos; como conservar números e letras de senha, para acessarmos este ou aquele sítio de internet ou de outra natureza. 

Eu havia, mais uma vez, sobrecarregado minha memória e penei, já quase desistindo de acessar novamente meu blog, que deixara abandonado por tanto tempo, consegui, porém, um resgate; e o que havia de falha era ainda pior; esquecera o e-mail correto de acesso. Não foi nada fácil, mas, já quase desistindo, como disse, e montando novo blog, consegui. E por que o empenho?

Por que há, sim, coisas que jamais nos saem da memória. Como a Princesa de Lágrima de cristal.

Ela apareceu de próximo ao Lago da Universidade Federal; em mistério; com voz na mansidão das princesas de encantamentos, com enigmas tão ao mesmo tempo tão próprios e tão dados a quem recebia sua atenção. Branca; pele alva como a neve; os cabelos negros; os olhos de uma beleza particularmente principesca. Tinha seu príncipe; mas pouco dele nos era dado; de sua origem só o que achava ser suficiente; vinha mais aos nossos mundos que nós ao dela.

Os homens comentavam de sua sensualidade de mulher moça, as mulheres comentavam de sua sensualidade de mulher moça; da atração que exercia; mas era evidente que ela apreciava de todos ali o distanciamento nesse sentido; tinha seu eleito à época; que desfez adiante, mas continuou a exercer o amor de princesa; sempre com ela própria a tecer as alianças... Me lembro que fez um pequeno jogo, mas o passou; o passou e voltou-se ainda mais para seus mistérios; suas buscas...  Lembro-me de sua voz, quando narrava um pouco mais da parte familiar de seu reinado... Era frágil, mas só aparência, tinha a consciência que as princesas têm de coisas e atos.

E tinha uma lágrima mágica; tem uma lágrima mágica, aquilo era fascinante; aquilo é fascinante...

Me fascinava aquela lágrima; que ela ou deixava cair; ou charmosamente enxugava; parecia-me que cada uma daquelas lágrimas era do grande entendimento que a fazia amiga de todo o Gabriel Gabo, do moço em que lhe rodeavam mil borboletas o tempo todo... Macondo... Cada lágrima daquela respondia por um mistério de um conjunto infinito deles.

Aquela princesa, fada em muito de si, tem em seu nome, saudades; sinto saudades do privilégio daquela amizade; um dia ganhei dela uma camiseta em meu aniversário... E íamos ao caminho, às vezes; haviam outros; outros haviam; mas ela sabia como ser o centro mágico das coisas...

Então sumimos um do outro... Como se rompesse uma magia e dois seres altamente íntimos de prosa, se tornassem estranhos. As coisas do tempo e o próprio tempo torna sua caminhada em destinos que são destinados... E a reencontrei, estava alcançando coisas que buscava em voos ordinários; se compunha na obrigatoriedade de se suster...

Mas, como é no mundo mágico;

Aos poucos se recompôs, a verdade da lenda; a moça de Lágrima de Cristal, sai da Princesa de Lágrima de Cristal, é realidade mágica novamente; a lágrima brilha, sempre uma única lágrima, um único significado, naquele universo líquido, só dela... Sinto saudades... E Ela acionou o retorno do blog; saudades... Mas ela é sempre ela e sempre soube me fazer feliz... A Moça de Lágrima de Cristal...