REFERÊNCIAS DAS IMAGENS:
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Adejo, sou superficial, sou apenas eu mesmo, com extremas dificuldades. Nem que fosse meu desejo mais profundo, poderia aceitar verdadeiramente nominativos como "intelectual", "artista", "crítico". Sou rasim. Posso, sim, aceitar "homem das letras", "poeta", mas porque tais termos são extremamente tolerantes quanto às portas de entrada. Se "Homem das Letras" comporta tanto Sartre, Bloom, Shakespeare, quanto meu amigo Zé, que embrenha-se em seus papéis vezes ou outras na semana, com muito pouco entendimento literato ou de crítica poética, e sai com um "Batatinha quando nasce eu penso em ensopado"... E também o termo "poeta" comporta em seus vastos átrios tanto Rimbaud, quanto seu admirador, Vinícius, o próprio Manoel de Barros, quanto o mesmo "Zé" das batatinhas. A democracia é eternamente frouxa? A liberdade uma eterna ilusão? De repente tudo vira perseguição, interrogatório, algemas, 1984, Maccarthysmo? Espero que não, espero conseguir dizer, pouco antes de uma morte por velhice, tipo a de Eliphas, "tive muita sorte, vivi em uma época e lugar em que pude ter um mínimo de liberdade em minhas expressões, fossem bobas, tolas, errôneas como fossem, ao menos sobre os rodapés da arte; e por isso posso dizer que morro como homem". Não tenho cacife para avaliar "tecnicamente", aliás, nem mesmo poeticamente, propriamente dito, um poeta laureado por tanta gente, desde que, segundo o genial professor Contini, de Linguística, na UFMS, foi Manoel de Barros "descoberto" por Cássia Kiss e depois, pouco a pouco consagrado, sendo apontado hoje como talvez o "maior poeta brasileiro vivo". Mas, com meus parcos e ocasionais voos sobre coisas escritas, e histórias sobre os sujeitos que escrevem, não gostei de sua poesia. Não posso dizer "não li e não gostei", frase que ouvi na primeira vez em sala de aula, da boca de uma genial professora, aliás, especialista em Barros, parece-me; frase gostosamente (por ela, e compartilhada por muitos, e francamente por mim) atribuida a um professor (parece-me) paulista que assim comentou a 'obra' de Paulo Coelho. Li algumas coisas de Manoel de Barros, e para o que gosto em poesia, achei fraquim... Claro, deve ser um monstruoso engano de minha parte. Achei que o barulho é maior que a produção. E foi difícil para mim entender afirmações dele como por exemplo de que a promiscuidade de sua poesia encontra paralelo em Rimbaud. E mais difícil foi para mim entender porque ele, pessoalmente, (considerando verdadeira a afirmação de quem o atendeu, que o conhece, o dono do 'sebo' em questão) vendeu "Lautreamont", novinho, com íntegra dedicatória do escritor de Voltas, autoridade em Surrealismo. Penso aqui na análise de Jack Miles sobre Jó, quando põe Deus a calar-se na Antiga Bíblia, de tal forma que jamais volta a falar com os homens na antiga tradição, antes que o Cristianismo "engolisse" o Judaísmo com Deus e Tudo, para o mundo. "Senhor..." diz Jó "...por que fizeste isto comigo?", "Para provar que és o grande servo fiel, exemplar, digno..." "Para quem, Senhor"? "Para Aquele que duvidou e desafiou"... "Para que, senhor?". Sabe, os grandes tem atitudes estranhas... E, frente às grandes golfadas de fama, que falsamente podem vestir-se de glória, tudo pode ser "alterado". A questão aqui não é a grandeza de Manoel de Barros, isso é objetivamente incontestável, Millor, gosta dele, professores poderosos da área literata formal gostam dele, Cássia Kiss gosta dele, a TV gosta dele, já vi um programa que dá um porre de Barros mesmo ao mais apaixonado de seus "seguidores". "O maior poeta vivo do Brasil", já ouvi muitas vezes. E quem sou eu para discutir a grandeza objetiva de Manoel de Barros? Ninguém, sou quase fumaça, minha opinião não resiste a qualquer bom vento. Por isso considerarei uma maravilha alguém com poder real de persuassão, sinceramente me fazer apagar essa blogada e jamais escrever neste mesmo tom sobre o poderoso poeta. O que está aqui em jogo com minha blogada que certamente será injustamente chamada de "estratégia ignóbil para chamar a atenção", (coisa irônica num bloguezinho esopo-ratônico -viram só? crio termos- que não fossem alguns poderosos amigos e desconhecidos de fato ilustres que aqui vem, seria um grito no deserto) é o direito de não ser meu gosto subjugado por decreto. Se eu vier a gostar de Manoel de Barros e sua Poesia, como gosto das coisas de literatura, onde haja ao menos respingos do sujeito na obra, no que se refere ao humanismo... Aqui concordo em parte com Sartre sobre o poderoso Flaubert... Não será porque uma partícula dos cofres públicos me laureou um projeto, não será porque algum trabalho acadêmico me abriu portas com o nome do sujeito e com sua obra, não será por amor regional barato, não será para discutir por discutir... Gosto mais de prosa poética, li pouquíssimo de poesia, e não consigo me lembrar de uma sequer, por inteiro... Mas li poesias, sim... o suficiente para entender que nos quebram a cabeça, nos confiam pouco, pouquíssimo para dizermos "li e gostei", naquele momento... Como um gozo sexual que por mais que queiramos recordar, virá brumado, mesmo que deliciosa lembrança... Não enxergo aqui Manoel de Barros como "o bom velhinho", e sinceramente, sem o conhecer bem, creio que ele recusaria enojado algo do tipo, pois é a mim natural a todos os homens algo assim. O enxergo aqui como um sujeito que se não amasse as Letras, porque as tomaria tão a fundo... Então o "não gosto" do título, já começa a perder força... Ele gosta (segundo o Márcio, amigo meu, que teve acesso a informações) de Chaves... O que é uma grande coisa, uma amostra de como a genialiade é ligada ao simples. E muitas pessoas maravilhosas que conheço, gostam de Manoel e sua poesia, de verdade e não para servir a pequenas ou grandes convenções e salões de chá das cinco ou das quatro e meia. Contini, o poderoso, esse é mesmo, poderoso... um Fíleas Fogg superior ao próprio Fogg, e caso não existissem celulares, um Kant, para que tivéssemos noção das horas precisas, com sua fria (melhor dos sentidos) análise, certo dia respondeu "ele tem dois excelentes livros poéticos". E esse é para mim o melhor dos avais sobre Manoel. Mas, ainda não consegui perdoá-lo sobre a venda inexplicável de Ducasse com dedicatória autoral, e sobre a "promiscuidade rimbaudiana". E ainda não consigo ver sua poesia diferente de um surrealismo regional nascido da independência poética que pode libertar até mesmo um ser patronal e formal na geração de filhos chamados livros... Da pimenta a pimenteira... Sei que poderei ter os comuns aborrecimentos que se tem ao afirmar sinceramente um gosto contra o "senso comum" (talvez censores comuns, às vezes), mas há tempos quero blogar isso. Nem que algum poder (espero que literário e biografal) me faça varrer essa blogada para sempre... Não muito distante de nascida. E sim, é provável que eu mude de idéia, mudamos de idéia, é nossa condição, ser mutantes, mutáveis, evoluir, e principalmente para sujeitos vazios de sedimentos verdadeiramente acadêmicos ou formais como eu . Mas, sobre os patifes, abutres de corredores, fã de bordados poéticos, fãs sem ter o que explicar, oportunistas baratinhos, esses serão sempre os mesmos, desde Homero... "Amor, neste poema não existe o tempo, todo o curso do universo nele se dá de uma só vez" (Joan Brossa, poeta catalão, poesia publicada por Elio Gaspari em A Folha de São Paulo). Quem poderá explicar isso? Referências literárias utilizadas aqui: "DEUS UMA BIOGRAFIA", Jack Milles, Cia das Letras; QUE É LITERATURA, Jean Paul Sartre, Ática; A VOLTA AO MUNDO EM OITENTA DIAS, Júlio Verne, Ática novamente.