"O
nome do arco é vida; sua obra, a morte. Quem se esquivará do fogo que não se
apaga?" (em 'A parte do fogo' de Maurice Blanchot, ROCCO, 1997).
Teria
a morte supremacia sobre a vida, em que faz dessa última um jogo
divino/infernal?
Uma
professora que respeito muito (sentido pleno), diz que não há hierarquia entre
as artes. Discordo, acho a literatura o pódio e origem artística devido ao fato
de que o homem é linguagem, entre outros, e é simplista dizer 'a paisagem é
linguagem, a música é linguagem', se são dependentes da gramática (entenda-se,
organização genérica formal e “revisada” da fala e escrita) para
humanizarem-se; e a humanidade é ainda isolada na complexidade perceptiva.
A Superinteressante
em seu número de julho/2010 ditou aspectos sob o tema Sucesso/Fracasso onde deu
que Mozart fez o que realmente presta (em termos) aos 21 anos de idade. O que
mais gostei na reportagem é a evidência de que é patetice aclamar exageradamente
talentos infanto-juvenis, observando-se que o grande Erasmo (Autor de o elogio
da Loucura, que influenciou inclusive Lutero), mesmo, enojava-se de furtos
sobre direitos à infância (ser apenas criança) em nome de glórias rasas; e olhe
que aquele tempo dele distava-se muito dos hediondos tele shows. O que
certamente não impedia as patéticas incursões às cortes em busca de um efêmero
sucesso e algumas moedas, com sacrifício incalculável sobre a vida infantil.
Creio
na literatura como suprema arte, porque exige maturidade que impede que um pai
apresente um escritor inato de 8 ou 12 anos, para espetáculos macacais. Se
apresentar, obviamente será claramente inferior a outros talentos verdes da
música, pintura e etc. E não se ofendam precipitadamente em nome de pintores e
músicos, pois os bons optaram por pincéis e instrumentos musicais, mas
escreveriam bem, se a opção fosse a caneta, ou o teclado letral (e tantos
fizeram e fazem boas obras distintas e simultâneas), pois como observa o
francês Sartre, inicialmente a inclinação artística é válida para qualquer
direção optada, depois vêm habilidades sujeitas ao suor do qual falava
Beethoven sobre o talento. A literatura tem o elemento reflexivo sob maior
exigência, e requer muito mais solidão que qualquer outro objeto de prazer.
Visto que os saraus literários são mais chatos que qualquer celebração tipo
'show' ou vernissage, se são mal feitos (e geralmente sobram nisso).
Sabemos
que o olhar a uma massa torta, borrado numa tela, ouvir um "pule que nem
macaco" (letras rasas de música), pode passar ileso na multidão e ser,
dentro do direito natural, nada mais que um superficial prazer. Mas ler requer
algo mais, ainda mais que esse ler é que poderá vir a ser algo realmente mais
que um borrado vazio, um patético quadro das 5 ou "ieieieieiaiaiaiaaaa,
poeiraaa"!
Que é
vida? O durante, a sorte de viver mais um segundo, mais um minuto, e descobrir
todos os dias que estávamos errados, mas que o erro é a trilha da glória
verdadeira; e que a liberdade, quando existe, nos concede mais e mais erros, e
estamos vivos... vivos, não é mesmo.