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Qual Letterman? Que Runner Runner? Que punk?
Assim como o surrealismo, o punk não só é pano para manga, como muitas vezes não se sabe direito quem está do lado do pano e quem está do lado da manga; e muitas outras nem se sabe que pano é esse, que manga é essa. Isso faz, talvez, a maravilha de ambos. Não se saber nunca com segurança o que é o punk e o que é o surrealismo, os protege da onda diabólica de uma mesmice imensurável que atinge a arte, principalmente na música. Mas, eis a manchete de um site: "Estrela dos talk-shows americanos lança gravadora" (http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/musica/2010/04/28/247066-estrela-dos-talk-shows-americanos-lança-gravadora). Trata-se, como observa o jornalista que tece a matéria, Letterman, não somente de um notável profissional, de inquestionável capacidade naquilo que faz, mas de alguém que inclusive influenciou nada menos que o grande Jô Soares. Aí vem a estranheza diabólica capaz de vir somente através do punk ou surrealismo, quem é Letterman, mesmo? Pois, de repente (crendo-se na 'direção' da notícia) ele empreende em gravadora, e na estréia pega uma banda punk. Aí vem, quem é o Runner Runner? Embora muitos usem nomes de banda para patetices, esculachos, sem imaginar o significado principal da função nominativa, desde o fantástico Ridleyscottiano "Blade Runner", entendo esse runner como uma eterna, sempiterna, profunda, fantástica estrada de escape, de saída, e não uma trilhazinha utilitária, banal... Mas, entusiasmado, pois gosto muito de Letterman e isso não diminuiu, fui conferir a banda, e verificar a tradução das músicas. Nossa! O mesmo lírico surradíssimo (e aqui surradíssimo sai muito, mas muito barato) de "ela, eu", presente no oceano que engole todas as chances de a música (já que passou das arpas e cornetas para letras) oferecer a poesia com um mínimo daquele sinalzinho que consagrou Sócrates, aquele ponto, o ponto de interrogação... Estética? Bem, para mim, que acho feias e insonsas algumas incensadas e insensatas vestidoras de peles e namoradoras e casamenteiras fashion e ocasionais, há dificuldades em resolver a distância entre o que sinto sinceramente sobre o que seja a beleza artística e os padrões aceitáveis entre crítica e gosto popular. Mas enfim, o Punk é generoso, o Surreal é generoso, que venham todos, que fiquem todos, pois os arredores daquilo que delimitamos como "núcleo punk", vão bem além dos quasares... Deixe estar, deixe ficar, mas... Puxa, que torço para que Jô não faça o mesmo, isso, torço... Caramba, do que menos precisamos neste momento é de cópias sobrepujarem a possibilidade de influência, "roubar" e imitar, na arte, quando se toca de nomes titânicos, quase divinos, como Letterman, deve ser muito mais que uma ação quase patética. "Roubar e imitar" é quase uma lei inescapável na arte, isso parece definitivamente provado... Mas, o mercantilismo artístico pode ser mais sério do que propõe a deusa Moeda, nas já muito parcas chances do homem de não se robotizar irremediavelmente... "Deus salve a rainha, e o Punk também..."