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NO PRÓXIMO TERERE SEMPRE UMA PROSA

domingo, 14 de setembro de 2008

"HÁ MENOS INOCÊNCIA NA NOVA GERAÇÃO AMERICANA" - DIZ O CORINGA

Fonte dos vídeos: Arquivo pessoal a partir de downloads aleatórios em diversas fontes. Qualquer reclamação por direitos devem ser remetidas a intelectivosj2@gmail.com , para que se tomem providências cabíveis.

1979 foi, sem dúvida, o ano mais bonito de minha vida. O que teve de melhor em minha vida, descontando o poder poético, esse poder de simplesmente olhar as flores e conseguir senti-las plenas de significado, como olhar o cachorro vira-lata de olhos tristes abanando o rabo, com fome e sem ódio do mundo, poder de entender o que significam aqueles sinais ondulantes sobre o asfalto do meio-dia e o gosto de beijo conquistado... E 1979 foi importante principalmente porque eu, como sempre, amava inutilmente. Mas foi o amar inutilmente mais útil que houve. Seu nome, como o de tantas pessoas das quais trato em outros escritos, deve ser preservado... Basta dizer que tinha uns olhos enormes, daquele esverdeado invadido por tons amarelos e que quando nos olha realmente, sentimo-nos comovidos ou ameaçados pelo poder da inocência, algo que jamais saberemos direito o que significa. Certamente aquele ano testemunhou uma coleção de atos ridículos de minha parte, todos gerados pela maravilhosa sensação romântica e brilho que recai em alunos que chegam abruptamente a uma nova escola, e contribuem para a maravilhosa e tola febre da juventude escolar. Posso me lembrar ainda hoje com exatidão, de garotas lindas que demonstraram real paixão pelo novo garoto da escola, e lembro-me também dos garanhões enciumados, inclusive de um professor garanhão que promovia festinhas, dançava com as meninas das salas, e anunciava as maravilhas do Pink Floyd -hoje sei que ele ia Pink Floyd adentro-. Claro que isso tudo me rendeu dissabores mentais e físicos (com outros alunos), ameaças, empurrões, brigas “onde os fracos não tem vez” (Irmãos Cohen), mas, felizmente, naquela época ainda não invadida pela enxurrada de pequenos traficantes, tudo era mais contornável, e sem conseqüências grandemente trágicas onde o ciúme originava tramas. O que marcou mesmo naquele ano, foi a menina de olhos verdes, que teria importância pelo resto de toda minha vida, e o “Disco 79”, com uma faixa chamada “American Generation”. Aquela garota não mudou sua natureza, tinha 13 anos quando a conheci, hoje é mãe e pelo que último vi não tardará tanto a ser avó, mas, bela, conserva a doçura, serenidade, e poder de selecionar de tudo a melhor parte, e ser solenemente conciliadora sobre as adversidades do destino. Jamais encontrei novamente alguém com tanto poder de sorrir com igual intensidade de coisas boas ou não, essenciando no sorriso algo balsâmico para dizer sobre fatos ruins e um impulso sobre os bons acontecimentos. Não é entusiasta e nem apaixonada furiosamente por nada; sim, parece ter sido fiel à natureza no gostar e desgostar sobre as coisas e carregar consigo uma valoração nobre, parte herança genética, parte herança educativa, mas principalmente, fruto dessas estranhezas de Deus quando mostra que há pessoas que nascem para dirimir os estados infernais que se apossam da terra, para ser o que pateticamente chamamos às vezes de anjos.
O que acho realmente interessante é que por mais que eu busque coisas fantásticas naquele ano que marcou a minha vida, o que encontro são simplicidades; coisas e gente simples. E muita, muita inocência em tudo que me cercava e que só pude dar esse nome tantos anos depois. Talvez a verdadeira importância daquilo tudo tenha sido um aprendizado que deu a mim o poder de absorção de impactos. Talvez aquele ano tenha criado escudos, sensores, defesas, espadas, que serviriam para agüentar as canalhices produzidas por mim próprio, por loucos egoístas que jamais realmente gostaram de pessoa alguma, e por circunstâncias nascidas de uma passividade absurda de minha parte perante o poder do mal e o disfarce do diabo. Talvez em 79 é que tenha nascido a têmpera que me ajudaria a utilizar meus contatos com a arte para permanecer vivo e representar um papel para o qual pareço ter nascido, jamais ser nada, para poder ser tudo... Jamais ser realmente compreendido, jamais verdadeiramente amar e estar realmente presente, ser sempre um estranho com aparência de quem fala sozinho, e cujas palavras são todas paradoxais porque o que se destaca não é importante e o que é frágil, esguio, solto e aparentemente disperso, é sim o que importa e que pode fazer diferença. Já não acho mais tão patético não ser ouvido no que falo de mais importante, e perceber atenção quando é o de menos o que expresso.
Nasci imerso em sangue, em muito mais ocasiões que uma dezena, contarei de forma semelhante ou dissone esse fato de que a primeira visão que tive do mundo foi totalmente vermelha, sangue é o que primeiro vi, e muito... E meu grito de bebê foi traduzido e respondido pelo guardião dos homens próximos da poesia... E agiu, imediatamente escalou um ser libertário o suficiente para saber lidar com a estranha biografia que nascia ali naquela boceta cheia de sangue de minha mãe. Os espíritos marciais costumam afastar os anjos das bocetas, mas, por algum motivo eles acabam sempre se aproximando. Saramago fez disso um atrevimento sutil que me deixou à época da leitura, de aturdido a perplexo... e custou a ele o exílio.
As razões pelas quais não serei nunca artista, embora persiga implacavelmente o domínio de determinadas habilidades próximas à arte, serão lentamente explicadas, e creio que antes que eu acorde na primeira manhã do fechamento desta década, terei conseguido explicar a quem realmente me importa, qual meu verdadeiro contrato com ela....
Na próxima blogada falarei do Bira novamente, da noite em que Marcelo Bonfá justificou qualquer dedicação carinhosa que lhe é direcionada... Falarei do que é ser artista, antes que eu próprio possa entender objetivamente o significado disso. Quando realmente entendemos algo, há muito perigo em esse algo perder a graça... vide os namoros, casamentos, quando todos os mistérios se desvendam, vide as crianças quando passam a ser previsíveis e repetitivas em seus dizeres... Vide um jogo que passamos a dominar totalmente... O mistério é o encanto das relações e da arte, a brincadeira séria, a seriedade sob a brincadeira; a maneira mais bela de se dizer o dizível e indizível; mas não é algo com que se lide com facilidade. O mistério é também uma moeda maldita com que lidam os falsos mágicos do dizer... É o encanto e desencanto quando não há habilidade em conduzi-lo... Basta uma mulher se vestir de mistério e o tolo inseguro –às vezes arrazoado, mas cego- começa a prova de que o reinado de Shakespeare é a realidade e o que chamamos de realidade são as chances mais verdadeiras de que a vida é meramente um cenário bastante tosco para a arte dos seres que não sabem outra língua que não o sussurro que produz o farfalhar das folhas da madrugada, fora de alcance da maioria e ao alcance dos homens amantes do frio ou sujeitos a ele pela nova escravidão... brincadeira... jokerman... jokerman...

domingo, 7 de setembro de 2008

ASSIM DISSE O PROF DR GENÉSIO: "A riqueza de um país é também feita de produção cultural e intelectual!".

 Antiga banda Stúdio 89 (Bira Brothers) . Fonte: Google Imagens.
Blues... Fonte da imagem: ciadeorquestracaocenica.zip.net

"Que o tempo não afunde na indiferença" (J. Ostemberg) Fonte da imagem: ciadeorquestracaocenica.zip.net

Pássaro Pintor. Fonte: Busca de imagens Google.

Não sei se é de Monteiro Lobato ou de um senador estadunidense (no entrevero que faço de obras e leitores que leio...) a frase...; sei que não foi de Mário Puzo, e nem de Paulo Coelho, aos quens tenho simpatia pelo desprezo que deram a quem tentou desincentiva-los. Apesar de que de PC li apenas “Brida”, a grande custo, e nunca senti vontade de reler, ou dele ler outro livro, mesmo com todo esforço de amigos com sinceros argumentos, nem com a alforria multi-cultural, ou novíssimas abordagens literárias. Voltando... a frase em questão é: “...infelizmente não adianta muito o desprezo que tens por política, pois serás sempre governado por ela”.
É... Ando pensando em política e arte novamente... terrível, impossível associação verdadeira...

Independente do resultado artístico de uma banda chamada Studio 89, amo um sujeito chamado Ubiratan. Amo-o porque todos os poucos que realmente me conhecem sabem o que considero amor. Uma proposta circunstancial, que deve ser mantida, sim, por cuidados, como mantermos uma roseira do Pequeno Príncipe, ou uma Ferrari, ou um jogo de bolinhas de gude –os que são do tempo “de” sabem do que digo-, ou um conjunto de vinil com Tim Maia, Chico, R. Russo, Pink Floyd, BTO, Beatles e vai... Antes que haja uma sanha gay (e chamo de sanha gay a cretinice sempre pronta a arruinar o que seja gay ou não gay e todas as reais chances de um convívio humano harmônico) previno que meu amor pelo Bira é parecido ao que tenho pelo meu pai, meu filho, e por outros amigos. A propósito, o Bira tem em sua biografia namoradas maravilhosas e atualmente está em pleno amor com uma linda morena; acho que acaba em casório e mais Biras.


Não creio que seja fácil provar que o amor não é circunstancial, a não ser que seja aquele amor dos loucos. E ainda não estou nem quero ficar mais louco do que o sou em relação à arte ou exercícios de imaginação. Se bem que sou obrigado a concordar, amar é ser um pouco louco, quer se queira ou não, mas isso é outra loucura, quando o tal amor é sano, se pode...

Mas em se tratando do amor fraterno... De irmãos... O Bira (Ubiratan – na casa dele tem mais Biras) me trouxe o Alessandro (Russo) que trouxe a idéia de apoiar alguém para vereador...

Harold Bloom diz que ao artista pleno, ao escritor pleno, é prudente o distanciamento de políticos. E há muitos outros artistas –Ivan Lins, por exemplo- que são ainda mais radicais na consideração sobre políticos.

Mas na prática das mudanças para um mundo melhor, se arregaçarmos mangas, não creio que em determinados momentos não tenhamos, e possamos, esbarrar na dependência de um político que defenda com sinceridade as idéias e atos (também sinceros) que movemos em razão de buscar mais Humanidade para a humanidade.



Tenho pensado nessa difícil busca (muitos dizem que impossível) de conseguir apoio constante de um político interessado/desinteressado...


Vale lembrar um trecho de reportagem feita com o professor doutor Genésio, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, na ocasião em que fez uma vernissage.


Jorge: Um crítico francês, já falecido, mas bastante atual em seus posicionamentos sobre arte (Maurice Blanchot), parece dizer que para música e pintura, mais que para ler, é preciso ter dons. O que o senhor acha sobre isso?
Prof. Dr. Genésio: Creio que algumas pessoas nascem com certas inclinações, certas qualidades. Mas o meio onde nasce, vive, cresce pode favorecer o desenvolvimento de uma habilidade para música, desenho, escultura. Ou pode impedir esse desenvolvimento.
Como eu disse no discurso da abertura da exposição, é muito importante um contexto para que a pessoa se desenvolva como músico, compositor, escritor, carpinteiro, escultor. Se há valorização da produção artística ou cultural no meio em que ele vive, críticos, pessoas envolvidas, troca de idéias - então ele pode se desenvolver.
Acho que todos têm potenciais a serem desenvolvidos em relação à música, pintura, escrita. Porém, nem todos têm as mesmas condições e intensidade de busca e aplicação. Mas há busca de outros objetivos, financeiro, por exemplo. Em resumo, você pode nascer com propensão, ou “dom”, como gostam de chamar alguns. No entanto o meio funciona como propulsor ou impedimento ao desenvolvimento de talentos. Logicamente há exceções, gente capaz de vencer todas as adversidades e atingir o status de “gênio”, se é que isso existe. Acredito na existência de grandes músicos, que não se tornaram grandes músicos, ficaram apenas no campo da potencialidade.
Lembro-me de uma ocasião, há 25 anos, que, ao comprar um vinil, observei na contracapa o apontamento de umas 8 ou 10 cidades na região da Alemanha ou Áustria, não me recordo com exatidão... Mas o que me chamou a atenção é que em tais cidades, presentes num raio de 80 ou 100 km, mais ou menos, tinham nascido e se formado os maiores músicos da música erudita. Dava-se como causa desse “milagre” ou fantástica coincidência o fato de, nessa região, existir o maior número de escolinhas de música, professores, demanda por boa música... Salões, conservatórios, etc. Esse contexto é que ocasionou essa magnífica ocorrência.
Penso que a riqueza do país são bois, agricultura, produção mineral, mas, não só isso. De maneira alguma. A riqueza de um país é também feita de produção cultural e intelectual. E essa riqueza é que pode formar um Estado saudável, uma boa reputação para o governo que promove arte de boa qualidade através da criação de espaços, promoção de eventos, e distribuição democrática de tudo isso. O envolvimento dos jovens com a arte pode evitar o desvio para utilização de drogas e de álcool. Isso é um grande problema das famílias hoje. Ninguém fica sem sentido para a vida. Sem outras opções para dar sentido a sua vida, o jovem cai na busca de sensações que proporcionem prazer ou alívio das angústias da adolescência. O envolvimento artístico também pode ajudar a tirar muitos jovens do caminho do crime. Creio que ela dá desejos de coisas boas, de criar.