Estou feliz de ter sido encontrado por minha amiga Angélica. Tenho certeza que ela representará uma nova força nos meus projetos literários, principalmente nos ajustes estruturais e necessárias colocações de pontos de vista pragmáticos, além de emprestar sua particular visão no que tange à prosa poética. Assim como eu, ela é outra admiradora da linha Zanelatto de pensamentos literários e outros, e tem uma fome inesgotável na busca das razões da arte, especialmente praticada pela escrita. A Angélica é dessas pessoas perfeccionistas, que gostam de ir ao extremo do acuro em lavrar algo, e agradecerei aos céus se em sua apertada agenda colocar espaços para dar atenção às verificações em meus escritos romanescos e poéticos. Sempre digo, se eu tivesse mil filhos, gostaria que todos tivessem ela como professora em algum momento, suas colocações claras sobre qualquer ponto, seus discursos didáticos são invejáveis. Seja bem vinda Angélica, toda vez que vier aqui, e espero que venhas sempre, e traga outros :o)...
Bobagem pensarmos que somos realmente capazes de escrever sobre o amor. Ainda bem, pois isso sustenta das mais simplórias coisas, como as composições new-sertanejas repetindo infinitamente as mesmas frases e estas sempre com vigor suficiente para que as pessoas ajam como periquitos faceiros, até as composições shakespearianas; para irmos logo aos exemplos mais fáceis da mensageira por excelência dos amores e ódios, a arte. Bobagem pensarmos que podemos saber realmente e realmente saber escrever sobre o amor; e estranhamente é isso que justamente nos leva a falar e escrever tanto sobre ele. E os benefícios de o amor não poder ser domado em sua conceituação não são, obviamente, somente esses. Até mesmo as conquistas todas, as possibilidades teológicas, e até mercadológicas – vamos colocar juntas essas palavras que nunca se deram tão bem como em nossos dias-. Falar de amor é como transformar tudo em nós ou outros e o que há dos outros em nós, em um momento. Como se de repente o coração, a mente e o espírito pudessem ter um fantástico espelho, de muitas dimensões. Então, apesar de ser bobagem pensar que existe a possibilidade, não é bobagem a tentativa. E creio que nisso todos são iguais, todos fazem momento ou outro uma reflexão séria sobre o amor, e claro, com todos os outros sentimentos que ele desperta, inclusive seu contrário, o ódio... Sim porque são separados por margem tão estreita que muitas vezes parecem aliados ou às vezes um o outro.
Posso dizer que para mim o amor representa o fracasso. Fracassei com a pessoa que mais amo no mundo, fracassei com meu filho. Fracassei com a Elaine, e ela foi talvez o que mais próximo cheguei do amor conjugal, e a prova definitiva de que amar me representa o impossível. Infelizmente a perdi para sempre, como perdi outras mulheres maravilhosas que passaram pela minha vida de homem de sorte em conquistar, fracassado em manter. Um dia me disseram uma coisa boba, mas, como esses dizeres bobinhos sempre trazem uma armadilha feroz, reparei que não era exceção: “É mais fácil conquistar mil mulheres que conquistar a mesma mulher duas vezes”.
Enfim, fracassei com Deus, fracassei com meu filho, com meus pais e com meu irmão, fracassei com a Elaine, fracassei com o Luís, o Rone, e outros entre os melhores amigos que tive na vida. E creio que fracassarei com o amor às Letras e com a Literatura. Paro! Olho! Indago... A mim, à solidão à frente de meus olhos quando saio na varandinha à noite e olho o que chamo de “Quem é você?”, olhos luminosos no azul escuro e oscilante, no céu. Fracassei comigo mesmo... Eu precisava de amor para conseguir honrar a sorte chamada vida, mas algo aconteceu... Não sei quando, como, mas em algum lugar na linha de minha vida, todas as chances sobre o amor desapareceram. Nas igrejas, na voz dos homens que falam em Deus nada encontrei que me fizesse contratar realmente com Ele, em minha busca solitária por Ele e na vontade de servi-lo, no final virou tudo interpretação literária ou poética (o que não deixa de ser maravilhoso), mas nada de amor... Bem que tive rompantes maravilhosos de algo que jamais poderia explicar, em minha busca a Deus em lugares e situações extremamente solitárias... Isolado na mata sob chuvas torrenciais, passeando sobre gigantescas pedras praianas em dias solitários no sul de Florianópolis, em Campeche, onde Saint Exupery esteve, olhando meu filho dormir de boca fechada, quase sorrindo, sereno, em sonhos, na beleza inexplicável de algumas mulheres maravilhosas, na voz da música erudita ou do rock... Sempre sozinho, sempre sozinho...
Se fracassei com o amor, também fracassei com o ódio, meu ódio nunca durou... Tenho ressentimentos antigos, solidificados, mas todos úteis para a poesia. Nenhum de meus ódios sobreviveu como ódio, propriamente dito. Não consegui odiar nem quem tentou efetivamente me matar, não odiei quem com a frieza matou por anos tudo que de melhor havia em mim... Nem quem sistematicamente pisoteou ou esnobou quando devia entender e atender, ou quem devia simplesmente dizer: “siga adiante”. Não consegui odiar a personificação total da mesquinhez, defeito humano ao qual mais meu coração devota espanto e recusa, talvez um tipo complexo de nojo.
Já, quanto às paixões, não posso reclamar... Para um cara de latinha tão normal quanto eu, tenho uma lista (perdoem-me as feministas) que daria inveja a muitos atores famosos... Eu realmente tive mulheres lindas em meus braços, em minha cama, em meus lábios... A começar pela mãe de meu filho, ela tinha treze anos e eu vinte três quando a vi, namoramos quando ela tinha catorze, e quando ela percebeu a seriedade de minha parte, me deixou por um ano, durante o qual eu tive uma loira do RS de apelido Angélica (preciso explicar a beleza dela?). Parecerei patético, mas não tenho outra forma de falar sobre minha sorte, eu realmente tive namoradas lindas, e muitas. E algumas foram realmente apaixonadas por mim e me amariam até o final da vida se eu tivesse sabido lidar com o amor. Minhas paixões foram febris, virulentas, eu consumia até o final tudo que me despertava paixão... Corrompia sexualmente todas que entrassem em meu mundo, exceção àquelas que são realmente incorruptíveis e não entendem o sabor da barbárie sexual. Quando digo isso não me refiro às mumunhas de Sade, aquilo tudo para mim, explorado até por programinhas chulos das tardes de domingão (tiazinhas da vida). Refiro-me a uma barbárie refinada, nada de absurdo. Mas peraê... O sexo, por si é absurdo, então, vamos deixar isso tudo aí mal acabado e mal escrito mesmo. Lembrei de Erasmo (De Roterdã) inferindo sobre os estóicos e de como será que seriam suas caretas nos momentos sexuais, quando a todos é impossível escapar do “ridículo”, do “louco” da situação.
Sobre o amor, Cristo representa a reforma para muitos. Acho que é sim, não de Cristo somente, mas mérito de muitos homens destacáveis, Rousseau, por exemplo, além do Homem-Deus, o nascimento da compaixão. Se a compaixão e a ética se tornarem o objeto do homem, a humanidade se salvará de Tomas Hobbes, ou seja, de si próprio. Isso sim, talvez seja o tal do amor.
Sobre a capacidade de o poeta transformar a mulher real na poesia, penso que Dante merece ser desafiado, pois recriou todos os mundos celestiais e infernais só para reescrever um nome de cinco Letras, Beatriz, nomezinho que incomodou até Luis, Jorge Luis Borges.
Casanova comeu todo mundo, será que amou alguém?
Todos dizem eu te amo, é o que disse Woody Allen, vale a pena ver porque. Assistam...
Taj Mahal ou os Jardins Suspensos? Bem, sabe, eu tive muita vontade de fazer amor com nenhuma das duas que incendiaram essas arquiteturas pelos seus hérculeos amantes, mas com uma mulher que dizem que foi nariguda, e que Isidore Ducasse deu grande importância e disse, distorcendo o Santo Pascal, “O nariz de Ceópatra, se houvesse sido mais curto, toda a face da terra teria mudado”. Imaginem o tesão (aqui, registre-se com justiça a moralidade presente no Word, o editor automático, aquele da linhazinha trêmula verde, tentou trocar a palavra tesão por excitação... rss) que sentiram César e Marco Antônio. Porque se não são muito mais as pompas bem engendradas, que vão desde a arte correta da maquiagem e do vestir até o jogo dos gestos e palavras de uma mulher de verdade, suas curtas, médias e longas estratégias na construção de suas histórias, o que faz com que todo o sangue do homem trabalhe abrindo um teatro mental que explode todas as torres morais internas e o faz parecer um animal ensandecido pelo cheiro escondido no ar... (e não me venham dizer que escrevi pornografia barata, por favor, trabalhem bem o “cheiro escondido no ar”, não é um cio animal, pura e simplesmente... Trata-se de querer muito, desejar muito, ao extremo, uma mulher. Eu desejei tanto uma, que a obsessão gerou um romance de mais de 300 páginas (será publicado, e creiam, é um história linda) e uma amizade fantástica. Se fizemos amor? Graças aos céus, neste caso a doce obsessão foi atendida, e como...
Garfield diz que ama Arlene, mas disse a ela: “Você é o segundo gato que mais amo!”, e a bobinha ainda perguntou, “quem é o primeiro?”...
Que pena, não posso perguntar para essa geração: “Você chorou quando Clarke Gable beijou Vivien Light?”. Pena, acho que não posso nem mesmo perguntar, “você chorou quando Richard Gere chegou numa limusine Branca, e se borrando de medo enfrentou seu pânico com alturas para ir à busca de seu verdadeiro amor, numa prostituta das ruas de Bervely Hills...?” Nestes dias não sei porque choram de emoção, na arte, os jovens...
Eu conheci o Paraíso, conheci o Purgatório e conheci tão de perto o Inferno que concordei com Baudelaire sobre o truque do Diabo, mas não conheci o amor, nunca deixei que me amassem, jamais amei alguém. Talvez seja porque os diabos dos escritores, mesmo os de rodapé, como eu, têm mesmo é uma cruz para carregar, viver as vidas alheias, tão alheias que constroem personagens e distorcem a realidade transformando as mulheres em deusas e os homens em diabos. E o Ricardo lembra Wilde “O mistério do amor é maior que o mistério da morte”. Ele acabou há pouco uma Skol 500 ml, é formado em Letras, é músico e compõe,... Sabe de amor, de poesia, poesia e amor... Talvez saiba mais que nós, pois músicos guardam segredos tão bem que nem mesmo escritores conseguem esmiuçar. Discordou aqui o Ricardo dizendo “...na realidade a música empresta da literatura...” Viram, essa discussão vai longe... um milhão de blogadas adiante, não só minhas, é claro...
UMA LINDA MULHER