olhares.aeiou.pt
im-postura.blogspot.com
amc-nuncamais.blogspot.com
miscampinas.com.br
storm-magazine.com
outrarevista.blogspot.com
Onde é o universo da verdade? No reino íntimo das pessoas? Como dar o nome de mundo a esse universo, se apenas a objetividade o significa? Novamente o amor triunfa? Ou o ódio, mais que o amor às vezes, pois se o amor escancara nossa capacidade de interpretarmos a nós mesmos, o ódio explode o íntimo e vaza. Nunca somos um somente, bloguei antes. Mas e se tivermos que ser? Ao mundo somos o conjunto de atos práticos, encadeados de tal forma que se começa a ter certa previsibilidade de nossos próximos atos. Pessoas dadas ao silêncio, são as mais enganosas, ou os tagarelas? E o ponto médio põe: 'aquele que tempera o silêncio com retóricas oportuna sobrepuja os dois primeiros?' Constantemente as palavras se rebelam, cada palavra nega-se a dar tudo o que dela pedimos. Essa benção possibilita a soberania da bobice massacrante de titânicas vazantes musicais pop e prova que as negações constantes nas palavras e não suas afirmações é que fazem sua magia e evitam que haja suicídios em massa. Pois mesmo com uma massacrante invasão de pop bobo, bem ao gosto da maioria nas sociedades, encontra um ser poético, coisa que sou obrigado a admitir com desgosto. Creio que se as palavras não tivessem essa rebelião, essa negação, o suicídio não somente seria uma constante no mundo, mas plenamente aceito, pois, como viver se passar a entender sempre exatamente o que dizem as palavras? Seriam ainda mais soberanos os materialistas, os objetivos, os "práticos", como gostam de se autodenominar alguns que com pequeno esnobismo vencem os formulários creditais e trocam a geladeira ou automóvel. Embora prosperidade seja quase sacramente a vitória das pessoas 'objetivas' e bem materializadas, diz o Houaiss sobre o próspero: "que desenvolve, que progride". E isso transforma em vacas confinadas um bando de prósperos que acha que basta ração da boa, cercados, tapinha dos criadores, remédio para carrapatos de boa origem e receita, e tudo está bem... Na capa dura de Nadja, aparece apenas um AB.... primeiras letras do gênio que criou o manifesto surrealista... André Breton, que com sua secura de vinho raro dispara logo ao início de um dos mais poderosos "testamentos" poéticos: "Subjetividade e objetividade travam, ao longo de uma vida humana, uma série de combates, nos quais a primeira costuma sair-se inteiramente mal." (BRETON, André. Nadja. Tradução Ivo Barroso, apresentação Eliane Robert Moraes e Posfácio Annie Le Brun. São Paulo: Cosac Naify, 2007p. 20). Mas por que isso? A rebelião das palavras é constante... O que são palavras? Quando são verdadeiramente nós? E Sartre, agudo crítico antipático ao poderoso Breton, ao falar sobre o que é escrever, diz: "Os poetas são homens que se recusam a utilizar a linguagem..." (SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? Tradução Carlos Felipe Moisés. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1993, p. 13). Digo, a rebelião das palavras é constante, porque mesmo um homem que jamais reflita efetivamente sobre a palavra "poesia", desde manhã, quando acorda e começa a perceber as coisas abstratas ou físicas, precisa da imprecisão, da negação das palavras, pois o contraste, assim como sob os olhos, é que define as coisas imersas nessa grande complexidade mundana... Mesmo que seja para pensar na caneca de café... ou no piso frio que enfrentará se não deixou as sandálias de prontidão... poesia, negação, contrastes... Diz ainda o belo zarolho: "A poesia não se serve de palavras, eu diria antes que ela as serve..." (mesma referência última). Serve, servidão, servas palavras, serva poesia? Não! Rebelião das palavras, mesmo quando nos serve... Por isso calhou tão bem a propaganda da Futura, afirmando Sócrates: "O mundo é feito mais de perguntas que de respostas..." A rebelião das palavras é constante... A intimidade é o atestado do amor? Não creio... sim, parte dele, quando solene e férrea, passados os anos... O que atesta o amor? A rebelião das palavras é constante... De repente tudo muda, estranha-se o que alguém diz, ou compreende-se rasamente... "Sede como as crianças" disse o Filho do Homem, com a mesma firmeza que disse também: "Seja tua palavra sim e não.". Como interpretar a voz de Deus? A rebelião das palavras é constante. Eu leio o que você escreve, eu leio o que vocês escrevem, quando encontro pouca rebelião... encontro pouco de vocês... Eu os escuto, eu os vejo, quando vejo pouca rebelião nas palavras, eu vejo muito pouco de vocês... A prosperidade de vocês, se insistirem que é um bom cargo público, cuja finalidade principal é ser bicho de contas, ou de Exupery ou de Kafka, ou um lugar onde as palavras não podem se rebelar, eu direi, "Você não existe se acredita que a vida é isso... A rebelião de palavras não existe"... Rebelião... palavras... constância... Nada desse trio pode ser o que parece... A rebelião das palavras é constante... Essa inconstância é que nos salva... que faz com que o farol resista a ondas tão violentas, cujo pensamento é apenas materializar a grandeza que imagina ter, mas que se dissipa em nada, afinal o egoísmo secular e eterno não pode ser vencido por nenhuma ordem mentirosa ou meramente acumuladora de bens cortezes. Quem poderá resistir à violência da mesmice das ondas? Um farol... branco e laranja... Que é o branco? Que é o laranja? Por mais que se esforcem as cores... Fora do acaso natural, são signos escravizados esperando a libertação pela rebelião constante dos poetas, feitos de palavras e sonhos docemente tolos... A rebelião das palavras é constante... A rebelião dos lêmingues é um mito? A rebelião das palavras é constante...